Experiências com ratos feitas pela nutricionista Fabiana Gouveia Denipote concluíram que a ingestão de taurina associada ao hábito de fumar pode provocar danos ao coração. A autora fez a pesquisa durante o seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia em Clínica Médica, da Faculdade de Medicina, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Botucatu. Ela foi orientada por Leonardo Antônio Mamede Zornoff, da mesma unidade. O resultado surpreendeu os pesquisadores, que acreditavam que a substância, um aminoácido com efeitos benéficos à saúde, poderia proteger a função cardíaca.

A taurina é encontrada em alimentos de origem animal como carne bovina e de aves, peixes e mariscos. O leite materno tem uma das maiores concentrações da substância, que também está presente em doses menores na beterraba, no feijão e nas nozes. Ela age no organismo beneficiando o fígado e os rins e combatendo o colesterol, o que lhe garantiu a fama de ' desintoxicante' , além de aumentar as contrações cardíacas e estimular o cérebro. Por isso, as bebidas energéticas são ricas no aminoácido (cerca de 1g), e muitos atletas consomem suplementos alimentares e cápsulas com a substância.

" Havia estudos que mostravam, isoladamente, os efeitos negativos do tabaco para o coração e outros que descreviam os mecanismos de proteção cardiovascular da taurina, mas essa associação nunca havia sido analisada" , afirma a nutricionista. Ao tentar encontrar uma interação positiva entre as duas substâncias, Fabiana chegou à conclusão de que essa soma prejudica ainda mais a função do órgão vital.

Para a análise, foram isolados dois grupos de ratos: um era exposto à fumaça do cigarro e o outro acumulava, além do fumo, a ingestão de taurina dissolvida em água. Após sessenta dias de exposição aos produtos, foram feitos ecocardiogramas e exames bioquímicos e morfométricos que verificaram teor de água no coração, fígado e pulmão.

Os que consumiam a substância e eram expostos ao tabagismo tiveram queda do desempenho cardíaco quando comparados com animais considerados apenas ' fumantes' . A pesquisadora constatou uma piora na função diastólica, que é a capacidade de encher o coração sob condições normais de pressão. Essa alteração poderia levar à insuficiência cardíaca. Fabiana ressalta que o experimento utilizou a taurina em sua forma pura diluída em água (1,5g por dia) e não bebidas energéticas.

A cientista explica que estudos com animais podem indicar um desempenho semelhante no organismo humano, mas nem sempre isso ocorre. A consequência exata da associação das duas substâncias para o homem só poderia ser conhecida com novas pesquisas.

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