Assumir a saúde do trabalhador como uma questão de saúde pública para integrá-la ao Sistema Único de Saúde foi a principal abordagem do pesquisador do Grupo de Direitos Humanos e Saúde da ENSP (Gdihs/ENSP), Luis Carlos Fadel de Vasconcelos, na primeira mesa do Fórum de Saúde do Trabalhador do Município do Rio de Janeiro, segunda-feira (31), na ENSP. Com o tema "A Saúde do Trabalhador e o SUS: interlocuções possíveis", o palestrante falou das conquistas obtidas na área pelo Movimento da Reforma Sanitária e da importância de se diferenciar a saúde do trabalhador da saúde ocupacional e da medicina do trabalho.
O fórum foi promovido pela ENSP e pela Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no município do Rio de Janeiro, reunindo pesquisadores, membros dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), alunos, gestores, dirigentes e membros do movimento sindical para discutir a saúde do trabalhador da cidade do Rio de Janeiro.
A primeira mesa foi coordenada por Isabel Gomes, do Núcleo de Saúde do Trabalhador da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. Após a apresentação do tema, Luis Carlos Fadel questionou se a saúde do trabalhador foi realmente incorporada pelo SUS. Segundo ele, ao se falar em saúde do trabalhador atualmente, "nos referimos a uma expressão mais moderna, que se relaciona à saúde pública e supera a saúde ocupacional e a medicina do trabalho."
Para Fadel, o conceito de saúde do trabalhador tem origem no movimento operário italiano, que buscava superar o conceito tradicional de saúde ocupacional e procurava mecanismos mais justos na relação entre saúde e trabalho. "Quando falamos em saúde do trabalhador, nos referimos à saúde, ao trabalho e ao direito", afirmou. No Brasil, revelou que os pensadores da Reforma Sanitária enxergaram que as instâncias de saúde não contemplavam a saúde do trabalhador, e havia a necessidade de mudar a relação daquilo que era chamado de saúde ocupacional e medicina do trabalho.
"A saúde no trabalho não fez parte da construção da saúde pública no século XX. Cuidar da saúde do trabalhador custa caro, e, quando a Organização Internacional do Trabalho foi criada, a saúde do trabalhador deixou de pertencer à saúde pública para se tornar parte da previdência social e do Ministério do Trabalho. Quando o Ministério foi criado, a Secretaria de Higiene Industrial saiu da pasta da saúde, por exemplo. A saúde no trabalho deixou de ser um problema de saúde; e mudar esse cenário foi um desafio muito grande na época em que o SUS foi pensado."
Na opinião do palestrante, quando a saúde do trabalhador foi incluída no ideário do SUS, pretendia-se que ela refletisse outro modelo, calcado numa relação de justiça com o trabalhador, e isso vem avançando. "Hoje, incluímos a categoria trabalho nos determinantes sociais da saúde. Não faz sentido que aspectos relacionados à saúde do trabalhador fiquem de fora da saúde. No entanto, a gestão do SUS ainda não assumiu o trabalho como uma questão central. A Vigilância Sanitária fiscaliza o produto, mas não o trabalhador. Não temos de pensar somente em parcerias nesse campo, mas em políticas integradas, em política de governo que privilegie a saúde do trabalhador. Temos gastos gigantescos com os acidentes de trabalho; mais de três mil mortes; quatrocentos mil acidentados; e dezoito mil se tornam incapacitados por ano. As interlocuções são fundamentais" finalizou.