Com um processo de reprogramação celular, as células da polpa do dente de leite são transformadas em células-tronco e classificadas a nível de neurônios. Esse processo permite identificar diferenças biológicas nos neurônios com autismo, estudar seu funcionamento e até mesmo testar drogas.
O estudo das características dos neurônios permitiu identificar diferenças morfológicas nas células de crianças autistas quando comparadas com as mesmas células de uma criança não autista. " Esses estudos permitem que se entenda mais sobre a biologia da doença" , explica a bióloga da Universidade de São Paulo (USP), Patrícia Beltrão Braga, que desenvolve o estudo em parceria com o professor Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia.
Como os neurônios estão em placas é possível também fazer experimentação com fármacos em busca de alterações nessas diferenças morfológicas, visando uma recuperação. Os testes ainda estão no início, mas já constituem um avanço em comparação com o que se descobriu nos últimos 20 anos.
O projeto A Fada do Dente foi inciado, em 2009, após as tentativas de aplicação do método terem sido bem-sucedidas no Brasil. Patrícia escolheu as células da polpa do dente por ter familiaridade no trabalho com elas e pela facilidade de obtenção. "Outros procedimentos para recolhimento de neurônios (como métodos de receptação após o óbito, por células sanguíneas ou até mesmo estudos com modelos animais) não garantem neurônios funcionais ou com a carga genética de um paciente, mas o método da reprogramação permite," afirma a pesquisadora.
Patrícia passou o ano de 2008 em contato com Muotri aprendendo a técnica de reprogramação celular desenvolvida pelo médico japonês Shinya Yamanaka, vencedor do prêmio Nobel de medicina de 2012. Yamanaka conseguiu desenvolver um método para reprogramar uma célula já adulta (no caso células da pele), transformando-a em uma célula-tronco semelhante às embrionárias, ou seja, as células maduras são rejuvenecidas até a fase correspondente a 6 ou 7 dias após a fecundação do óvulo com o espermatozoide.
Como participar
O projeto recebe dentes de crianças de todo Brasil. Os pais, cujos filhos são diagnosticados com autismo, devem entrar em contato com os pesquisadores do projeto por meio do email projetoafadadodente@yahoo.com.br. Os pais cadastrados recebem um kit para colher o dente quando ele cair ou for retirado. O kit visa manter as células do dente vivas para que cheguem em condições viáveis para estudo no laboratório: ele contém um frasco com um líquido para preservar as células e gelo reciclável para manter o dente gelado. O dente não pode ser congelado nunca.
Caso o dente caia e o kit não esteja por perto, a indicação é colocar dentro de um copo com água filtrada e deixá-lo na geladeira, para que a polpa não seque e as células não morram. O dente precisa ser colhido com rapidez para que as células sejam viáveis.