Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, nos EUA e do Instituto Pasteur, na França identificaram, pela primeira vez, uma proteína-chave do cérebro que é afetada pelo consumo de álcool.
A pesquisa representa um grande passo no caminho para o desenvolvimento de drogas capazes de perturbar a interação entre o álcool e o cérebro.
"Agora que identificamos esta proteína-chave do cérebro e compreendemos sua estrutura, é possível imaginar o desenvolvimento de uma droga que pode bloquear o local de ligação", afirma o pesquisador Adron Harris.
Harris e seus colegas descreveram na revista Nature Communications a estrutura da proteína do cérebro, denominada de canais iônicos ligante-dependentes, elemento essencial de muitos dos efeitos fisiológicos e comportamentais primários do álcool.
De acordo com Harris, evidências anteriores sugeriram que esses canais iônicos são sítios de ligação importantes para o álcool. Os investigadores não puderam provar, no entanto, porque eles não conseguiram cristalizar a proteína do cérebro bem o suficiente e, portanto, não puderam utilizar cristalografia de raios X para determinar a estrutura da proteína com e sem a presença do álcool.
"Para muitos de nós no campo de pesquisa sobre o álcool, isto tem sido um Santo Graal, encontrar um sítio de ligação para o álcool sobre as proteínas cerebrais e mostrá-lo com cristalografia de raios-X. Mas isso não foi possível, porque não é possível obter um bom cristal", observa Harris.
A descoberta veio quando Marc Delarue e seus colegas do Instituto Pasteur sequenciaram o genoma de cianobactérias Violaceus Gloeobacter. Eles observaram uma sequência de proteína de bactéria que é muito similar à sequência de um grupo de canais iônicos no cérebro humano. Eles foram capazes de cristalizar essa proteína.
Em colaboração com os pesquisadores franceses, Harris e seus colegas mudaram um aminoácido e tornaram a cianobactéria sensível ao álcool, e, em seguida, cristalizaram ambas as bactérias originais e a mutante. Eles compararam as duas para ver se conseguiam identificar onde o álcool se vinculava à mutante. Com novos testes eles confirmaram que aquele era um local significativo.
A próxima etapa, segundo Harris, é usar ratos para observar como as mudanças na proteína-chave afetam o comportamento quando os ratos consomem álcool.
Eles também esperam identificar outras proteínas importantes desta família de canais iônicos ligante-dependentes. Em longo prazo, ele espera desenvolver drogas que atuam sobre essas proteínas de forma a ajudar as pessoas a diminuir ou cessar o vício em bebida.