Subprodutos liberados por bactérias intestinais podem ser usados como ferramenta de triagem para prever risco futuro de ataque cardÃaco, derrame e morte, de acordo com pesquisadores da Cleveland Clinic, nos EUA.
NÃveis sanguÃneos mais altos de um produto liberado pelo microbioma intestinal foram associados a maiores riscos de morte e infarto não fatal ou acidente vascular cerebral (AVC) em três anos.
O estudo foi publicado no The New England Journal of Medicine.
O trabalho atual é uma extensão de um estudo anterior de Stanley Hazen, no qual ele mostrou que um subproduto quÃmico chamado N-óxido de trimetilamina (TMAO) é produzido quando as bactérias intestinais digerem o nutriente fosfatidilcolina, vulgarmente conhecido como lecitina.
A pesquisa anterior mostrou que os nÃveis de TMAO no sangue foram associados com doenças cardÃacas.
Hazen e seus colegas já confirmaram que a flora intestinal é essencial na formação de TMAO em humanos e demonstraram uma relação entre os nÃveis TMAO e eventos cardÃacos futuros, como ataque cardÃaco, derrame e morte, mesmo naqueles sem evidência prévia do risco de doença cardÃaca.
Para demonstrar o papel da flora intestinal em formar TMAO, voluntários humanos foram convidados a comer dois ovos cozidos (uma fonte comum de lecitina na dieta) e uma cápsula de lecitina marcada (com um marcador).
Após a ingestão, os nÃveis de TMAO no sangue aumentaram. No entanto, quando esses mesmos indivÃduos receberam um breve tratamento com antibióticos para suprimir a flora intestinal, seus nÃveis TMAO foram suprimidos, e nenhum TMAO adicional foi formado, mesmo após a ingestão de lecitina.
Segundo os pesquisadores, estes resultados demonstraram que as bactérias intestinais são essenciais para a formação de TMAO.
Na segunda fase do estudo, os pesquisadores mediram os nÃveis TMAO em um grupo clÃnico com mais de 4 mil adultos submetidos à avaliação cardÃaca na Cleveland Clinic, ao longo de um perÃodo de três anos de follow-up.
Os resultados mostraram que nÃveis sanguÃneos mais altos de TMAO foram associados a maiores riscos futuros de morte e infarto não fatal ou acidente vascular cerebral durante o perÃodo de três anos que se seguiu, independente de outros fatores de risco e resultados de testes sanguÃneos.
Os dados complementam estudos anteriores que vinculam o metabolismo da flora intestinal a um nutriente semelhante encontrado em produtos de origem animal, carnitina, à produção de TMAO e ao risco de ataque cardÃaco.
"Nós precisamos encontrar novos caminhos para atacar doenças do coração, e estes resultados sugerem fortemente que novas investigações sobre o envolvimento do microbioma intestinal no desenvolvimento de doença cardiovascular podem levar a novos caminhos de prevenção e tratamento de doenças do coração", conclui Hazen.
A equipe ressalta ainda que esses estudos mostram que a medição dos nÃveis sanguÃneos de TMAO poderia servir como uma poderosa ferramenta para prever o risco cardiovascular futuro, mesmo para pacientes sem fatores de risco conhecidos. Entanto, mais estudos são necessários para confirmar que os testes de TMAO, assim como colesterol, triglicérides ou nÃveis de glicose, podem ajudar os médicos a orientar as recomendações nutricionais individualizadas para prevenir a doença cardiovascular.