O projeto de saúde mental do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), em Porto Alegre utiliza a arte como forma de recolocar os pacientes da instituição na sociedade. Atores da companhia de teatro italiana "Accademia della Follia", da Região de Friuli Venezia Giulia, realizam oficinas de treinamento teatral com internos e funcionários do hospital. O projeto "A Arte da Loucura" é uma parceria entre a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e a Conferência Permanente para a Saúde Mental no Mundo (Copersamm).
O objetivo da companhia italiana é encerrar as atividades com a peça "Azul como a liberdade", composta por todos os participantes das oficinas, em apresentação que ocorrerá no dia 18 de maio, no auditório do hospital. Pelo menos 20 pacientes integram as atividades teatrais, que são gratuitas e realizadas diariamente pela manhã.
Experiente no quesito "arte e loucura", a "Accademia della Follia", formada por 12 integrantes - entre eles, dois atores ex-internos de uma instituição psiquiátrica na Itália -, está pela terceira vez no Brasil, onde apresentou a peça Extravagância em 2010 e 2011. O grupo, fundado pelo diretor e ator Cláudio Misculin, nasceu há 30 anos no antigo hospital psiquiátrico de Trieste, no mesmo período em que o psiquiatra Franco Basaglia, criador da lei antimanicomial, abriu as portas da instituição para o mundo.
Os integrantes da companhia acreditam que a loucura pode revelar um potencial artístico e possibilitar que os deficientes mentais se expressem frente ao preconceito da sociedade. "Corpo, voz e movimento são um milagre porque a construção de um ser humano está no corpo, especialmente, entre pessoas com dificuldade psicológica. O corpo deles está pesado e apático. No entanto, o teatro possibilita que um canal de comunicação se abra dentro do indivíduo, independente do nível psiquiátrico", explica a atriz e professora italiana Ana Dalbello.
A instrutora afirma que a receptividade dos internos é positiva. Muitos têm dificuldades de se manifestar nos primeiros encontros, mas logo se soltam à medida que participam dos trabalhos. "No início, a pessoa tem medo porque é uma coisa nova. Depois, demonstramos que a gente se interessa. Fazemos ela brincar, se divertir e descobrir a importância de se expressar. Quando se cria essa familiaridade, o paciente se abre", avalia.