Estudo revela que pacientes que sofrem de insuficiência cardíaca produzem mais acetona que o normal. Essa substância é capaz de funcionar como um marcador de gravidade da doença. A partir de uma observação clínica na qual foi constatado um odor exalado pelos pacientes com a doença, a médica Fabiana Goulart Marcondes Braga, uma das pesquisadoras do projeto, quis verificar uma possível relação entre o odor exalado pelo hálito dos pacientes e a enfermidade. " Entrávamos no quarto de um paciente com estágio avançado e percebíamos que havia um cheiro diferente. Porém, o paciente que vinha ao consultório, com a mesma doença mas em estágio menos grave, não exalava o mesmo odor. Não se tratava de mau-hálito, mas um cheiro meio adocicado, e a partir disso fomos buscar o que poderia ser" . O estudo foi realizado em São Paulo, no Instituto do Coração (Incor), pela Faculdade de Medicina (FM) e pelo Instituto de Química (IQ) da USP.
Os pesquisadores desenvolveram um dispositivo simples e portátil para coletar o ar exalado pelos pacientes. O equipamento permitia que as substâncias contidas no ar fossem misturadas a um nível de água contido dentro do instrumento. O material coletado era então congelado para posterior análise.O equipamento já é utilizado pela pesquisadora em novos exames com pacientes no Instituto do Coração. " O interessante está no modo como é feita a captação do ar, pois ela não envolve a coleta de sangue e em cerca de cinco minutos o processo de coleta é finalizado" , conta, ressaltando que o método " não é invasivo e o paciente apenas sopra, como em um teste de bafômetro" . " Também não há riscos de contrair infecções" garante Fabiana.
Foram separados três grupos para análise: um com pessoas sem doença cardiológica alguma, outro com pacientes do ambulatório que apresentavam insuficiência cardíaca, porém em um quadro estável, e um terceiro grupo de pacientes que chegavam ao pronto socorro com nível de gravidade da doença mais elevado, apresentando um quadro clínico mais avançado. " O terceiro grupo foi subdividido em dois, de acordo com o perfil clínico que identificávamos no atendimento" , afirma Fabiana.
Foram coletadas amostras de ar exalado de todos os pacientes com o auxílio do dispositivo desenvolvido para a pesquisa. A análise química das amostras foi feita pelo também pesquisador Guilherme Lopes Batista, do IQ. Os resultados apontaram que entre os pacientes que apresentavam a doença cardíaca, o nível de acetona era muito maior do que entre os saudáveis. E no grupo de pessoas que chegava na emergência com um estágio mais grave de insuficiência cardíaca, o nível da mesma substância era maior em comparação com quem estava no ambulatório, com a doença estabilizada. " Dessa forma conseguimos, por intermédio dessa mesma substância, definir níveis de produção pelo corpo de acordo com o estágio de insuficiência cardíaca. Além do objetivo de identificar qual era a substância, conseguimos verificar que ela era um marcador de gravidade da doença" .
Partindo do ponto de identificação da substância que provocava o odor no hálito dos pacientes, o estudo buscou observar em que momento ela é produzida pelo corpo humano. " No estudo piloto, foi analisado apenas um grupo menor de pacientes, para tentar entender o que seria, e percebemos que a substância era a mesma entre os pacientes" , descreve a médica. " A partir daí, com um grupo maior de pessoas, tentamos entender em que momento essa substância é produzida pelo corpo e em quais níveis."