Pesquisa realizada em um grupo de 35 adolescentes do sexo feminino com anorexia nervosa e transtorno alimentar não especificado (TANE) que não se incluem completamente nos grupos da bulimia e anorexia mostra que, após um ano de tratamento, não houve melhoras no quadro de perda de densidade óssea (conteúdo mineral presente no esqueleto) das pacientes. " Mesmo as meninas recuperando peso e voltando a se alimentar de forma adequada, a sua massa óssea não foi recuperada" , esclarece a autora do estudo, a endócrino pediatra Mariana Moraes Xavier, autora de uma tese de doutorado sobre o tema na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
" Estudos de perspectivas mais longas com mulheres adultas mostram que se o transtorno alimentar começa em uma idade jovem, elas têm maior chance de sofrer fraturas espontâneas na vida adulta" , comenta Mariana. É no fim da adolescência e começo da vida adulta que ocorre o pico da massa óssea no corpo, isto é, esta é a época em que acontece a maior parte da formação e calcificação dos ossos no corpo humano.
A pesquisadora continua: " Qualquer distúrbio alimentar que cause desnutrição nessa faixa etária compromete a massa óssea para a vida toda" . No entanto, Mariana diz que há tanto estudos que apontam para a irreversibilidade da perda de densidade óssea, quanto outros que mostram o contrário: com um período maior de observação, combinado ao bom tratamento nutricional e diagnóstico precoce da doença, a recuperação da massa óssea poderia ser possível.
O trabalho foi realizado com pacientes do ambulatório do Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (PROTAD), do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, onde a pesquisadora era médica voluntária. Participaram do estudo adolescentes que estiveram no programa entre abril de 2006 e dezembro de 2008, excluindo-se pessoas do sexo masculino e com quadro clínico correspondente à bulimia.
Entre as participantes, 21 meninas apresentavam anorexia nervosa e outras 14 tinham casos enquadrados no TANE: idade entre 10 e 12 anos, sem a primeira menstruação e que tiveram perda de peso grande, porém com massa corpórea normal. Ao entrarem no PROTAD e após seis meses e um ano de tratamento, todas passaram por medições de altura e peso, além da verificação de idade e massa óssea a partir de exames radiográficos de mãos e punhos e da densitometria óssea (procedimento similar ao Raio-X, que mede a massa óssea) da coluna lombar.