Estudo publicado na revista Science, realizado por um grupo internacional de pesquisadores, do qual participaram dois brasileiros, revelou que as células também fazem sacrifícios para assegurar a continuidade de suas futuras gerações.
Os pesquisadores constataram que durante o processo de divisão celular (mitose) - pelo qual uma célula " mãe" se divide para dar origem a uma célula " filha" - a célula " materna" fornece muito mais mitocôndrias (estruturas internas essenciais para a sobrevivência de qualquer vida celular) para sua " cria" do que se esperaria pela razão entre os volumes delas - a célula filha é menor do que a célula mãe.
A descoberta sugere a hipótese de que, tal como na natureza, as células mães se sacrificariam para aumentar as chances de sobrevivência de suas filhas.
" Essa constatação é inédita e contraria a intuição de que as mitocôndrias são divididas de forma proporcional à densidade [volume] das células mães e das células filhas. Elas quebram essa regra" , disse Luciano da Fontoura Costa, professor do Departamento de Física e Informática do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos, e um dos autores do estudo.
Segundo Costa, a descoberta desses mecanismos de divisão poderá ser estendida para outros organismos e tecidos. As células-tronco humanas e algumas células cancerosas, por exemplo, muitas vezes se dividem em duas células que se parecem e se comportam de forma muito diferente.
Em função disso, na opinião do pesquisador, estudos de biologia de sistemas como o que realizaram - que usam abordagens de ciências exatas, como métodos quantitativos de matemática, física e computação, e vão além da análise molecular, complementam a pesquisa em genética.
De acordo com Costa, as pesquisas sobre o genoma - hoje feitas em maior escala do que os estudos de biologia molecular - são insuficientes para entender um organismo como um todo porque diversos genes não são expressos, por exemplo.
" Os genes, em princípio, indicam como construir uma proteína, por exemplo. Mas o fato de se ter um gene não significa dizer que o organismo vai ter esta determinada proteína expressa" , disse.
" Existe todo um controle na maquinaria celular que determina se essa proteína será expressa ou não. E esse controle, inclusive, depende da geometria do embrião e se já foram formados certos tecidos e estruturas anatômicas que são usados como sinalização para expressão de genes e servem como andaimes para construir o resto de um organismo" , disse Costa.
Com informações da Fapesp