A preocupação com a infecção em seres humanos e o prejuízo econômico na avicultura causado pela bactéria salmonela, com o alastramento do tifo aviário, estimularam a pesquisa do professor da Unesp de Jaboticabal, o veterinário Ângelo Berchieri Junior, na produção de uma vacina para combater a doença. No Brasil, o problema já atinge oito estados considerados destaques em avicultura, encarecendo custos de produção.
O trabalho do pesquisador fornece importante ferramenta para diminuir as perdas de produtores, reduzir custos e trazer mais segurança em saúde pública, uma vez que para controlar o tifo aviário os produtores importam o medicamento. O resultado da pesquisa de Berchieri foi obtido a partir de uma modificação genética da própria bactéria.
A vacina é o primeiro estudo nacional já testado em aves que utiliza bactérias vivas e pode combater duas variedades de salmonela, isoladas entre os mais de 2.500 tipos, onde cerca 90 são responsáveis por infecção em seres humanos e animais: a Salmonella Gallinarum, que é a causadora do tifo aviário, e a Salmonella Enteritidis, que ataca o ser humano e é considerada como problema de saúde pública.
O veterinário José Roberto Bottura, diretor técnico da Associação Paulista de Avicultores, explica que a Salmonella Enteritidis não necessariamente mata as aves que contamina. " O risco é que ela seja transmitida para outros produtos, como o frango de corte ou o ovo, e depois chegue ao ser humano" .
Geralmente, os estudos são feitos usando bactérias mortas. Elas são tratadas com óleo para ficarem mais tempo no organismo, e assim estimularem o sistema imunológico por um período maior. " Mas as bactérias vivas são melhores, pois se multiplicam no trato animal e provocam uma resposta imune muito maior. O fato de estarem vivas torna a vacina mais eficiente" , diz Bottura.
Na produção da vacina do pesquisador da Uneso, as bactérias são submetidas a um processo de atenuação que impede que elas transmitam a doença. Isso é feito através de manipulação genética. Primeiro, através do método de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), os pesquisadores conseguem partir o DNA do micro-organismo. Depois retiram os genes responsáveis por ativar a produção da proteína cobalamina, também conhecida como vitamina B12.
Sem esse gene, a bactéria não consegue se desenvolver suficientemente no animal para que a doença se manifeste. Obtém-se, assim, uma versão atenuada dos micro-organismos. Berchieri esclarece que essa atenuação só ocorreu para o caso da Salmonella Gallinarum. " A Salmonella Enteritidis ficou até mais agressiva com a alteração."
No entanto, a resposta imunológica suscitada no organismo das aves impede desenvolvimento da Enteritidis, o que afasta a possibilidade de transmissão a seres humanos, garantindo dessa forma, o potencial para imunizar aves contra dois dos tipos mais comuns de salmonelose.
Com informações da Unesp