Cientistas do Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, demonstraram, pela primeira vez, que algumas mutações genéticas, quando acumuladas, podem retardar ou interromper o crescimento do tumor.
As descobertas sugerem que aumentar o impacto dessas mutações poderia oferecer uma nova forma de tratar a doença.
O trabalho foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
O câncer pode levar anos ou até mesmo décadas para se desenvolver, conforme as células gradualmente acumulam mutações necessárias. Essas mutações geralmente estimulam oncogenes tais como Ras, que promove o crescimento celular, ou desligar genes supressores de tumor tais como p53, que normalmente impede o crescimento.
Mutações 'passageiras' que surgem aleatoriamente e 'pegam carona' nas mutações que induzem a progressão do tumor, foram classificadas como benignas. No entanto, o autor sênior Leonid Mirny e seus colegas suspeitaram que o processo evolutivo no câncer pode proceder de outra forma, permitindo que mutações com apenas um efeito ligeiramente prejudicial se acumulem.
Para testar esta teoria, os pesquisadores criaram um modelo de computador que simula o crescimento do câncer como um processo evolutivo, durante o qual uma célula adquire mutações aleatórias. Estas simulações seguiram milhões de células a cada divisão celular, mutação e morte celular.
Eles descobriram que, durante os longos períodos entre aquisição de mutações que induzem o crescimento, muitas mutações passageiras surgiram. Quando uma das células cancerosas ganha uma nova mutação controladora, a célula e sua progênie assumem toda a população, trazendo toda a bagagem da célula original de mutações passageiras. Essas mutações nunca se espalham na população.
Este processo se repete cinco a 10 vezes durante o desenvolvimento do câncer e, a cada vez, uma nova onda de mutações passageiras é acumulada.
As simulações mostraram que se um número suficiente de mutações passageiras se agrupa, seus efeitos cumulativos podem retardar o crescimento do tumor. Os tumores podem tornar-se inativos, ou mesmo regredir, mas o crescimento pode começar de novo se novas mutações que induzem a progressão são adquiridas. Isso coincide com os padrões de crescimento de câncer frequentemente vistos em pacientes humanos.
"O câncer pode não ser uma sequência de acúmulo inevitável de mutações que induzem o crescimento, mas pode ser, na verdade, um delicado equilíbrio entre essas mutações e as mutações passageiras. Remissões espontâneas ou remissões desencadeadas por fármacos podem, na verdade, ser mediadas pela carga de mutações passageiras", afirma Mirny.
Quando eles analisaram mutações passageiras encontradas em dados genômicos retirados de pacientes com câncer, os pesquisadores encontraram o mesmo padrão previsto por seu modelo, a acumulação de grandes quantidades de mutações ligeiramente prejudiciais.