Cientistas da Universidade da Geórgia, nos EUA, fizeram uma descoberta que pode levar a novos tratamentos contra a doença do sono que não causam nem a dor, nem os riscos associados às terapias atuais.
A equipe, liderada por Roberto Docampo, identificou um receptor específico situado em uma organela dentro do parasita causador da doença que regula a liberação de cálcio, responsável por inúmeras funções celulares críticas necessárias para o crescimento e replicação do parasita.
"Este receptor é um alvo atraente de drogas. Os mecanismos que identificamos são fundamentais para a sobrevivência do parasita, assim se pudermos manipulá-los, podemos parar a infecção", explica Docampo.
O receptor de cálcio identificado pelos investigadores serve como uma espécie de mensageiro no interior do parasita, dizendo a ele quando secretar produtos químicos específicos, quando se dividir e, quando se espalhar.
Os pesquisadores suspeitaram que perturbando este sistema, eles tornariam os parasitas incapazes de crescer e se replicar dentro dos seus hospedeiros humanos e animais.
Docampo e seus colegas testaram sua hipótese assistindo versões geneticamente modificadas de célula parasitária tanto em culturas de laboratório quanto em ratos. Em ambos os casos, os parasitas geneticamente modificados com receptores de cálcio disfuncionais foram incapazes de se replicar, e os ratos do grupo experimental permaneceram livres de doença.
"Nós sabíamos que essas organelas eram ricas em ácido de cálcio, mas somente agora entendemos como eles liberam o cálcio para controlar as funções celulares. Agora que compreendemos melhor esse caminho crítico, podemos começar a pensar em novas terapias para a doença do sono", afirma Docampo.
O parasita é transmitido através da picada da mosca tsé-tsé, inseto voador encontrado em todo o continente da África que sobrevive bebendo sangue de hospedeiros humanos e animais. Muitos esforços globais para prevenir a transmissão da doença do sono se concentram no controle ou erradicação da mosca tsé-tsé, o que tem sido difícil.
Mesmo quando os seres humanos são bem sucedidos em evitar a picada da mosca tsé-tsé, animais domésticos como bovinos e suínos podem ser vítima de nagana, a versão animal da doença do sono. Os animais infectados perdem a força, não produzem leite e acabam por morrer.
Docampo e seus colegas estão confiantes de que sua descoberta terá aplicações além do tratamento da doença do sono. Embora as células dentro de seres humanos e animais sejam mais complexas que os tripanossomas, elas carregam organelas que funcionam de maneira semelhante à que eles esperam bloquear no parasita.