Um abordagem do aspecto multidisciplinar na odontologia do idoso foi feita pelo especialista Fernando Montenegro, da área da odontologia especializada no atendimento aos idosos. Montenegro é e dentista no Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza, mantido pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e é autor do livro Odontogeriatria - Uma Visão Interdisciplinar. A obra será lançada no final do mês de janeiro no I Congresso Interdisciplinar da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas.
Segundo o especialista, uma abordagem global faz toda diferença no tratamento ao idoso. " O paciente necessita de um tratamento mais individualizado, em que seu histórico médico é levado em consideração. É importante que o dentista tenha um bom relacionamento com os demais médicos do paciente, porque nem sempre ele (o paciente) vai dizer ao seu dentista se está com o diabetes controlado, por exemplo. E essa é uma informação importante, que pode ter influência no tratamento" , explica.
O caminho inverso também é importante. O principal problema bucal que afeta os idosos, a redução do fluxo salivar, é, segundo Montenegro, efeito colateral do consumo contínuo de remédios receitados pelos demais médicos para controle de hipertensão e diabetes, doenças crônicas comuns na terceira idade. Como consequência dessa redução, ocorre maior incidência de cáries e lesões na mucosa da boca, que sustentam as próteses, levando o paciente a sentir dor.
Por causa da dor, o paciente a para de usar a prótese e, portanto, deixar de consumir todos os alimentos importantes para uma dieta saudável. Com isso, ele fica mais suscetível às doenças. Também pode acontecer aumento no consumo de certos nutrientes, pois a saliva é importante na limpeza das papilas gustativas, que são responsáveis pelo reconhecimento do sabor dos diferentes alimentos. Pouca saliva significa pouca limpeza nessas papilas e o resultado é que a percepção de sabores como doce ou salgado fica prejudicada e a pessoa idosa passa a temperar mais a comida, podendo exagerar no açúcar ou no sal e tendo problemas no controle de diabetes ou hipertensão.
Montenegro destaca também o uso de próteses, que nem sempre recebem os devidos cuidados dos pacientes. " Próteses muito antigas não permitem mastigação eficiente. A mastigação ineficaz impede boa absorção dos nutrientes da dieta, função muito importante para fortalecer a saúde dos idosos. Os médicos pedem para o idoso manter uma dieta balanceada, consumir muitas fibras, mas se os dentes, ou a prótese, não estão bem, a pessoa não consegue seguir essas orientações" , observa.
Com informações da USP