O Brasil deve duplicar o número de pacientes tratados e ampliar o acesso aos testes de detecção do HIV, para permitir o diagnóstico e tratamento precoce da doença e reduzir a proliferação do vírus. É o que defende especialista em saúde pública Mario Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), no livro Coquetel: a incrível história dos antirretrovirais e do tratamento da aids no Brasil.
O livro, lançado em dezembro do ano passado, é baseado em pesquisas realizadas na FMUSP sobre o histórico do desenvolvimento dos antirretrovirais e da mobilização dos pacientes e da sociedade para que o governo implantasse sua distribuição pelo SUS. Hoje, no Brasil, cerca de 250 mil portadores do HIV, vírus causador da aids, recebem gratuitamente do Sistema Único de Saúde (SUS) os medicamentos antirretrovirais para o tratamento da doença.
Scheffer explica que o vírus HIV, para se reproduzir, utiliza-se das células CD-4 (linfócitos), que protegem o organismo contra infecções. " Quando a aids tornou-se uma epidemia, no inicio dos anos 1980, os médicos limitavam-se a acompanhar a história natural dos pacientes, que morriam de infecções oportunistas, provocadas pela destruição do sistema imunológico pelo vírus" , diz. " O primeiro medicamento conta o HIV, o AZT, começou a ser utilizado em 1986, mas o tratamento era pouco eficaz, mesmo quando combinado com outra medicação, na chamada terapia dupla, surgida em 1991."
Tratamento
Scheffer aponta que o aumento do número de pacientes tratados ajudará a reduzir a transmissão do vírus, e consequentemente, o número de casos da doença. " A partir de 2008, a comunidade científica começou a discutir o uso dos antirretrovirais para prevenir a transmissão do HIV" , afirma. " No ano passado o governo federal alterou o indicador de contagem de linfócitos necessário para iniciar o tratamento, de modo que seja iniciado mais precocemente" .
O professor observa que a ampliação do acesso aos antirretrovirais obrigará o Brasil a manter a atenção com as questões de custos, patentes e produção de medicamentos genéricos. " No livro, é demonstrado que para garantir a sustentabilidade do programa brasileiro de aids, será necessária melhor regulamentação do processo de incorporação dos antirretrovirais, a começar pelas pesquisas clínicas, consenso terapêutico, mecanismos de registro, ações judiciais, atuação dos médicos e das empresas farmacêuticas" , destaca.
Com informações da USP