O estado de São Paulo está com problemas na realização de cirurgias e preenchimentos faciais contra lipodistrofia de portadores do HIV e aids, denuncia o Fórum de ONG/Aids paulista.
Em recente reunião com ativistas da capital e do interior do estado, Rodrigo Pinheiro, Presidente deste Fórum, ouviu várias queixas sobre a dificuldade de realizar tais procedimentos estéticos. " Não conseguir fazer as cirurgias reparatórias já era um problema antigo, mas agora até as aplicações do metacrilato, que eram rápidas e simples, estão complicadas para serem feitas" , afirma o militante.
Provocada pelos medicamentos antirrotroviais e pelo próprio vírus HIV, a lipodistrofia é uma alteração metabólica que gera acumulo ou diminuição de gordura em partes específicas do corpo, como costas, nádegas e rosto. As cirurgias e os preenchimentos com metacrilato foram alternativas criadas para diminuir esta alteração metabólica, ajudando na autoestima dos soropositivos.
Alberto Carlos Andreoni de Souza, integrante da RNP+Sol, como é conhecido o núcleo da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids de Araraquara (a morada do Sol), está tentando ajudar seu parceiro a realizar estes procedimentos estéticos, mas contou à Agência de Notícias da Aids que não está obtendo êxito. " Os SAEs (Serviço de Atenção Especializada em DST/Aids) de Araraquara e de toda a região encaminham os pacientes para fazerem os preenchimentos faciais no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, mas não recebem nenhum tipo de resposta. Isto é um grande descaso" , disse.
Além da região de Ribeirão Preto, há relatos de dificuldades em fazer cirurgias reparadoras e aplicações de metacrilato em soropositivos nas cidades de Sorocaba e São José do Rio Preto, informa o Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo.
Rodrigo disse que vai levar o problema para as reuniões da Frente Parlamentar Estadual de Combate às DST/Aids, pedindo uma explicação oficial do governador Geraldo Alckmim sobre a não realizações de tais procedimentos cirúrgicos.
Mylva Fonsi, infectologista e responsável pela coordenação técnica da rede contra lipodistrofia do estado, informa que há hoje 35 serviços em São Paulo inscritos para realizar preenchimentos estéticos com metacrilato e cinco para cirurgias reparadoras. Segundo ela, no entanto, a demanda é muito grande, o que provoca grandes filas de espera. No Hospital de Heliópolis, na capital, por exemplo, onde já foram realizadas mais de 800 cirurgias contra a lipodistrofia, a lista de espera por uma cirurgia pode chegar a três anos.
Além de Heliópolis, estão inscritos para fazer cirurgias contra lipodistrofia no estado, o Hospital Emílio Ribas, também na cidade de São Paulo, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, o Hospital de Base de São José do Rio Preto e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
" A rede de preenchimento fácil no estado é tranquila. Quando observamos algum problema, como a saída de um profissional que fazia este tipo de procedimento, tentamos rapidamente substituí-lo, mas em relação às cirurgias plásticas, a rede ainda não está redonda. Além de serem, por enquanto, cinco centros de saúde para todo o estado, este procedimento necessita de anestesistas, salas cirúrgicas e acaba competindo com outras urgências dos hospitais" , justificou.
Mylva acredita que com a recente contratação de mais um cirurgião plástico para o Emílio Ribas ajudará a agilizar o atendimento. Segundo ela, alguns pacientes devem começar também a ser encaminhados para Botucatu, onde o atendimento está mais tranquilo em comparação aos outros quatro centros do estado.
Sobre a paralização dos serviços cirúrgicos em Ribeirão Preto, a integrante do Programa Estadual de DST/Aids afirma que irá entrar em contato com a diretoria do hospital para saber os motivos e procurar soluções.