Cientistas da Purdue University, nos EUA, projetaram uma molécula capaz de atacar a doença de Alzheimer sem afetar os processos fisiológicos saudáveis do organismo.
A molécula, um inibidor muito potente e específico da enzima beta-secretase, é muito menos provável de causar efeitos colaterais.
"Esta molécula apresenta as mesmas propriedades anti Alzheimer de outros inibidores de beta-secretase, mas é muito mais direcionada. A seletividade que conseguimos é sem precedentes, o que nos fornece promessa para a produção de um medicamento de longo prazo para tratar a doença de Alzheimer sem danos ao paciente", afirma o líder da pesquisa Arun Ghosh.
Cada vez que um tratamento erra o alvo da doença e interage com uma célula saudável, isso causa danos que chamamos de toxicidade. Mesmo baixos níveis de toxicidade podem ser acumulados ao longo de anos e anos de tratamento e os pacientes precisariam ser tratados pelo resto da vida.
A nova molécula apresenta uma seletividade 7 mil vezes maior para a enzima alvo, que ultrapassa a seletividade de tratamentos tradicionais.
Inibidores de beta-secretase, que podem permitir intervir nas fases iniciais do Alzheimer, representam promessa como tratamento potencial para a doença. Vários medicamentos baseados neste alvo molecular têm sido feitos para ensaios clínicos, incluindo uma molécula criada por Ghosh e seus colegas anteriormente. Estas moléculas impedem que o primeiro passo de uma série de eventos que conduzem à formação de placas amiloides no cérebro, que se acredita causar os sintomas devastadores da doença.
Versões anteriores do inibidor de beta-secretase foram capazes de parar e até reverter a progressão de placas amiloides em testes em ratos, no entanto, era preciso que esses inibidores fossem transformados em uma droga de fácil administração que ultrapassasse a barreira sangue-cérebro.
Para isso, os pesquisadores realizaram cristalografia de raios-X e capturaram as estruturas cristalinas para revelar informações importantes dos inibidores.
"O desenvolvimento de inibidores em medicamentos de uso clínico é um processo evolutivo. Aprendemos o que funciona e o que não funciona ao longo do caminho, e o conhecimento nos permite melhorar na próxima etapa", afirma o pesquisador Jordan Tang.
A beta-secretase pertence a uma classe de enzimas chamadas proteases de aspartilo, que interagem com moléculas necessárias para o organismo.
Ghosh e sua equipe focaram no desenvolvimento de maneiras de tornar o inibidor mais seletivo, de modo que evitasse essas moléculas saudáveis do organismo.
Eles descobriram que a adição de uma característica funcional molecular que tem como alvo e interage com uma região única, torna o inibidor mais atraente para a beta-secretase e menos atraente para as outras enzimas.
"A abordagem serve como uma isca para a molécula de inibidor que seduz a beta-secretase e se une a ela com força, aumentando muito sua seletividade. Esta é uma visão fundamental sobre as origens da seletividade e sobre maneiras de aumentar essa característica", concluem os autores
Um artigo sobre o trabalho foi publicado no Journal of Medicinal Chemistry.