Estudo desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revela o baixo uso de suplemento de ferro para prevenir anemia em crianças. Apesar da existência de uma iniciativa do Ministério da Saúde para prevenção, o Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), apenas 6% das crianças entre seis e 18 meses de idade em Florianópolis receberam o suplemento de sulfato ferroso distribuído pelo programa.
A pesquisa avaliou a aplicação do PNSF em 35 centros de saúde da rede pública de Florianópolis (SC) durante o ano de 2010.
Criado em 2005, o PNSF assegura que todas as crianças a partir de 4-6 meses de idade e até os 18 meses recebam um frasco de suplemento de ferro a cada três meses para prevenir o aparecimento da anemia.
A pesquisa realizada pela mestranda em Nutrição, Francieli Cembranel, observou o número de crianças de seis a 18 meses de idade que receberam o suplemento de sulfato ferroso, a idade em que começaram a receber e o número de frascos.
O estudo utilizou dados do sistema de informações em saúde da Secretaria, o INFOSAUDE, que possui registro de todos os atendimentos realizados nos centros de saúde do município. Durante o ano de 2010 foram cadastradas 13.197 crianças entre seis e 18 meses de idade em 35 centros de saúde de Florianópolis, mas apenas 834 crianças receberam o suplemento (6% do total de crianças).
De acordo com a pesquisa, a baixa quantidade de crianças que receberam o suplemento indica fragilidades no processo de identificação e acompanhamento do público-alvo do programa, além de estar muito aquém da expectativa do Ministério da Saúde, considerando que a previsão desta estratégia é a de que no mínimo 60% das crianças recebam o suplemento.
Situação vulnerável
A pesquisa também revelou que, entre as crianças que receberam o suplemento, menos da metade (44%) iniciou a suplementação dentro da idade recomendada (com até seis meses de idade), e menos de uma em cada 10 (7%) receberam um frasco de sulfato ferroso a cada três meses.
Segundo Francieli, a não adesão à suplementação de ferro durante os primeiros meses de vida torna a criança extremamente vulnerável a desenvolver anemia, principalmente a partir dos 4-6 meses de idade. É a partir desta idade que se esgotam as reservas orgânicas de ferro que a criança ganhou da sua mãe durante a gravidez e com o aleitamento materno.
Como nesta idade usualmente as crianças deixam de ser amamentadas e começam a consumir outros alimentos diferentes do leite materno, dificilmente a alimentação complementar recebida consegue por si só atender as necessidades aumentadas do mineral que a criança tem para o seu crescimento e desenvolvimento.
Francieli aponta que os resultados do estudo indicam a necessidade deste programa do Ministério da Saúde reforçar as estratégias de capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde, pois estes constituem um elemento fundamental para a adesão das famílias ao programa.
Segundo a mestranda, as informações obtidas poderão auxiliar no planejamento de ações, contribuindo para o aprimoramento da estratégia e a elaboração de políticas públicas mais eficazes na prevenção da anemia.