Pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), desenvolveram um método para retirada de células-tronco por meio da lipoaspiração. A prática é tida como mais segura e o rendimento proporcional do número de células tronco obtidas é muito maior do que aquele aspirado em medula óssea, ou mesmo coletado em sangue de cordão umbilical.
" A famosa ' Lipo' é uma técnica madura, com 34 anos de história. E o fato de extrairmos células-tronco da gordura (tecido adiposo) humana é extremamente positivo uma vez que se trata de fonte rica destas células, podendo ser obtidas do próprio indivíduo" , destaca Elenice Deffune, docente da disciplina de Hemoterapia na FM, onde desenvolve pesquisas em torno da engenharia celular há 20 anos.
No entanto, ressalva que as aplicações consolidadas de coleta de medula óssea e de sangue de cordão umbilical não podem ser substituídas integralmente pelas células tronco de tecido adiposo, pois as células obtidas em cada método podem ser usadas de modos diferentes, originando tecidos variados para outros tratamentos e estudos.
Células-tronco
As células-tronco extraídas do tecido adiposo são consideradas mesenquimais, tem capacidade de se diferenciar e dar origem a diversos tecidos, como o cartilaginoso, ósseo, muscular, cardiáco e neural, além de possuírem inquestionável capacidade de controle de imunidade, sendo utilizadas em doenças intestinais como Chron, doenças auto-imunes e para controlar mecanismo de rejeição dos transplantes de medula óssea, entre outras patologias.
Atualmente, no mundo as doenças cardiovasculares são as que mais recebem tratamento eficaz com células-tronco, seguida das doenças neurodegenerativas - como Parkinson -, porém no Brasil, que possui um protocolo clínico mais rigoroso para a liberação de tratamentos medicinais, muitos métodos ainda estão em fase experimentação.
Para Deffune, a captação dessas células-tronco através da lipoaspiração e o seu uso em tratamento são uma evidência positiva dos novos rumos da medicina. " A Engenharia celular encontra-se no centro do círculo virtuoso podendo beneficiar pacientes de diferentes especialidades levando-se em conta resultados concretos obtidos, criteriosa análise, protocolos éticos de fase clínica rigorosamente constituídos exercendo plenamente desta forma a medicina regenerativa e translacional tornando mais justos os investimentos em pesquisa" .
Recuperação
Em fase final de testes para a liberação na FM, estão os tratamentos para a recuperação de traqueias em parceria com o ambulatório de Cirurgia Torácica. Outra parceria, com o Instituto do Coração (Incor/USP), visa à futura produção de cartilagens e novos vasos sanguíneos.
Por enquanto, na FM só são realizados tratamentos em pacientes com feridas crônicas expostas, recorrentes em diabéticos, hipertensos ou pessoas com passado de hanseníase (lepra). " Já tivemos casos de feridas abertas há 47 anos, que passaram pelo nosso tratamento e foram completamente curadas" , completa Elenice.
Células-Tronco e o mercado farmacêutico
Segundo a docente da FM, na Europa já há indústrias farmacêuticas trabalhando em parceria, que compram os resíduos das cirurgias plásticas de extração de gordura a fim de transforma-la em produtos medicinais comercializados já em grande demanda.
"É extremamente importante a criação de critérios para que os procedimentos cirúrgicos não se tornem parte de mecanismos de mercados, mas continuem sendo realizados com profissionalismo e ética" , finaliza.