" A proibição não veta o acesso às drogas, pois é impossível impedir tal coisa. O acesso existe com ou sem a proibição" . A afirmação é do cientista político Luiz Eduardo Soares durante a palestra Drogas, políticas públicas e saúde, que marcou a abertura da semana comemorativa dos 58 anos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) nesta segunda-feira (10). Soares defende a necessidade de não mais tratar o usuário de drogas como uma vítima do traficante, pois este sim merece a criminalização.
Segundo o presidente da Fiocruz e do Comitê Brasileiro sobre Drogas e Democracia, Paulo Gadelha, não há nenhuma evidência que justifique por que uma droga é lícita ou ilícita com relação ao dano que ela produz. Pesquisa mostra que a percepção social da população é de que uma pessoa que experimentou a maconha tenha a possibilidade de ser dependente a vida inteira, mas, quando perguntada sobre o álcool, se a pessoa pode beber diariamente, a população percebe o risco como muito baixo. " Das internações, 70% ocorrem pelo álcool, e 90% das mortalidades também. Mas o álcool é considerado menos problemático que outras drogas ilícitas. A percepção da sociedade está tão consolidada que é necessário um processo amplo de debate social para o processo de modificação" , destacou.
Ainda de acordo com Soares, no Brasil ocorrem, por ano, 50 mil homicídios dolosos média preservada independentemente da região do país. Este número coloca o país na segunda posição mundial em letalidade intencional, ficando atrás apenas da Rússia em números absolutos. Em números relativos, o Brasil fica em quinto lugar na América Latina. A região concentra 42% das mortes por armas de fogo em todo o mundo, mesmo quando computados países em guerra civil. " Entretanto, dessas 50 mil mortes, apenas 8% são esclarecidas, ainda que não sejam julgadas na justiça, permanecendo impunes 92%, para as quais sequer há identificação do sujeito" , ressaltou.
Com informações da Fiocruz