Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, conseguiram desenvolver próteses dentárias mais resistentes com aparência muito similar ao dente natural. Segundo o dentista Juliano de Pierri, responsável pelo estudo, uma das principais propriedades do novo material é a maior resistência a movimentos repetitivos. "As próteses odontológicas sofrem esforços da mastigação durante toda a vida de um indivíduo e os danos por fadiga são responsáveis por grande parte das falhas observadas nas estruturas destes materiais", diz.
Para o desenvolvimento de um material mais resistente, a prótese desenvolvida por Pierri possui uma matriz feita de óxido de alumínio, também conhecido como alumina, que atua como um arcabouço para abrigar as partículas nanométricas de óxido de zircônio. "Esse conjunto gera uma estrutura que é três vezes mais resistente e tem o dobro da tenacidade do que se o material fosse feito de alumina sem as inclusões destas partículas de zircônia", afirma. Aplicação de óxido de zircônio na elaboração de materiais odontológicos apresenta melhores resultados tanto mecânicos quanto estéticos.
De acordo com o pesquisador, diversos fatores estão envolvidos na elaboração de materiais odontológicos, como o comportamento diante da força aplicada pelos dentes durante a mastigação, a resistência a movimentos repetitivos e à acidez bucal, além dos aspectos estéticos. Para desenvolver uma prótese que apresente resistência mecânica e aparência similar ao dente natural, os estudos realizados na UFSCar elaboraram uma estrutura mais estável. "Antigamente uma prótese odontológica era composta por uma infraestrutura de metal, produzida em super liga de níquel. Esta estrutura, cujo aspecto visual é bastante deficiente, era recoberta com uma camada de porcelana estética. O que desenvolvemos é uma maneira de se substituir o metal por uma cerâmica que já possui uma estética muito superior ao metal e posteriormente recobri-la com a porcelana", explica o pesquisador.
Integração de conhecimentos
Com formação em Odontologia e em Engenharia de Materiais, Pierri afirma que a integração entre diversas áreas do conhecimento é cada vez mais importante no desenvolvimento de novas tecnologias. "Cada vez mais a integração multidisciplinar e multiprofissional é imprescindível para o sucesso em inúmeras áreas. Atualmente, tenho acompanhado inúmeros desenvolvimentos, principalmente na área de biomateriais, mas também na área da biocibernética onde o resultado final da melhoria na qualidade de vida das pessoas jamais seria alcançado sem o trabalho em equipe", acredita o pesquisador.
A pesquisa ainda está analisando o comportamento do material em ambientes com alta umidade e sob constantes alterações de temperatura. "Estamos iniciando um projeto que visa utilizar este material de maneira piloto em alguns consultórios, talvez na rede pública", adianta Pierri.