O treinamento físico para portadores de disfunção microvasular coronária (DMC) melhora a chegada do sangue ao coração e reduz a dor precordial - dor no peito de origem cardíaca, revela pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). O treino também aumenta a capacidade funcional, a qualidade de vida dos pacientes e complementa o tratamento medicamentoso, que é eficaz em apenas 50% dos casos de DMC.
Os exercícios foram testados pelo fisioterapeuta Eduardo Elias Vieira de Carvalho, sob orientação do professor Marcus Vinícius Simões. " A pesquisa contou com 19 pacientes, sendo 12 homens e 7 mulheres com média de idade de 53 anos, que participaram da segunda fase, com acompanhamento médico cardiológico, fisioterapêutico e da equipe de enfermagem" , diz o pesquisador. " Eles não passaram pela orientação nutricional que é oferecida pelo Programa para que fosse posível fazer uma verificação mais precisa dos efeitos do treinamento físico combinado com a medicação" . Durante quatro meses os pacientes treinaram uma hora por dia, três vezes por semana.
Em cada sessão, eram coletados dos dados vitais como pressão arterial, frequência cardíaca e nível de glicose no sangue. " Depois de um aquecimento de 5 a 10 minutos, eles faziam meia hora de esteira, seguindo um ritmo adequado aos resultados do seu Teste Cardiopulmonar (TCP), e por fim, uma atividade de relaxamento" , relata Carvalho. " Ao final do período de treinamento, depois de novos exames e da aplicação de um questionário de qualidade de vida verificou-se uma melhora da capacidade funcional dos pacientes e a redução das dores e dos defeitos de perfusão miocardica" .
Menos dores no peito
Dos 19 pacientes que iniciaram a pesquisa, 12 foram encaminados para a fase 3 do Programa de Reabilitação Cardíaca do HCFMRP. Quanto aos demais, a maioria deixou o programa quando diminuiram as dores no peito. " Esta etapa do estudo comprovou o efeito benéfico da atividade física." , ressalta o fisioterapeuta. " Agora, uma nova fase da pesquisa vai identificar os mecanismos fisiológicos responsáveis por esse benefício" .
A DMC, por apresentar dor precordial (angina no peito) como sintoma, pode ser confundida e tratada como se fosse uma Doença Arterial Coronária (DAC). " Esse quadro do paciente está associado com isquemia miocárdica, problema que leva ao infarto" , afirma Carvalho. " O padrão das dores é semelhante, elas surgem em momentos de estresse e esforço físico e diminuem quando a pessoa está em repouso" .
A diferenciação entre as duas doenças é feita com testes de esforço realizados em esteira, exames de cintilografia miocárdica e cateterismo. " Desse modo, é possível identificar lesões coronarianas, como obstrução das artérias, presentes nos portadores de DAC" , afirma o fisioterapeuta. " Os pacientes com DMC apresentam apenas defeitos perfusionais reversíveis, ou seja, algumas regiões do coração não estão recebendo sangue corretamente" .
O tratamento da DMC é realizado com medicamentos. No entanto, a medicação é eficiente apenas em 50% dos pacientes que apresentam a disfunção, não revertendo os problemas de circulação e nem diminindo a dor. " A prática regular de treinamento físico melhora a função endotelial, relacionada com a elasticidade das artérias, fazendo com que se dilatem e circule mais sangue pelo órgão" , conclui Carvalho.
Com informações da USP