Um grupo de pesquisadores dos departamentos de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) pretende criar em São Paulo um modelo de centro de convivência de jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos do neurodesenvolvimento, que possa concentrar ações de prevenção em saúde mental.
O projeto foi apresentado por Jair de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador da iniciativa, em conferência realizada no dia 25 de julho na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Luís (MA).
De acordo com Jesus Mari, o objetivo é que o modelo de centro, com nome provisório de " Espaço Cuca Legal" , possa atrair jovens que ainda não desenvolveram transtornos mentais para serem acompanhados por uma equipe multidisciplinar de profissionais.
O projeto vai oferecer atividades socioeducativas, como oficinas de leitura, teatro, música e esportes, a exemplo do que é feito nos Headspace Centres, criados pela Australia's National Youth Mental Health Foundation, nos quais o projeto brasileiro buscou inspiração.
" Pretendemos garantir a identificação e intervenção precoce de jovens com maior propensão para desenvolver transtornos mentais graves, de modo a inibir ou retardar o desenvolvimento do surto psicótico e mudar o comportamento em relação aos fatores de risco conhecidos, como o uso de maconha" , disse Jesus Mari.
Segundo o pesquisador, estima-se que entre 50% e 75% dos transtornos mentais tenham início na adolescência. Porém, a falsa impressão de que os jovens são sempre muito saudáveis, além do estigma das doenças mentais, contribuem para retardar o diagnóstico e o início do tratamento, o que agrava o quadro do transtorno mental e tem repercussões por toda a vida.
Com base nessa constatação, países como a Austrália e o Canadá implementaram centros de prevenção de transtornos mentais voltados especificamente a jovens, de modo a diagnosticar adolescentes que apresentam ou que estão expostos a fatores de risco que potencializam o desenvolvimento de adições, estados depressivos e transtornos mentais graves como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar.
" Os estudos realizados no Brasil e no exterior apontam que se pudermos intervir mais precocemente nesse grupo populacional nesta fase crítica do desenvolvimento, em que os transtornos mentais surgem, será possível diminuir a probabilidade de os jovens apresentarem, no futuro, transtornos psicóticos" , disse Jesus Mari.
Alguns dos fatores considerados de risco e potencializadores do desenvolvimento de transtornos mentais são o consumo de álcool, drogas e tabagismo e exposição a situações traumáticas.
Segundo Jesus Mari, como no Brasil há uma certa leniência em relação ao consumo de álcool entre jovens e experiências com drogas e cigarro nesta fase da vida são vistas muitas vezes até com um certo glamour, é preciso criar políticas públicas no país que coíbam o acesso dos jovens a substâncias psicoativas.
" O uso de álcool e drogas durante a adolescência é extremamente pernicioso para o desenvolvimento cerebral dos jovens. A adolescência representa um momento em que o jovem está definindo sua identidade sexual e em que está preocupado com questões como seu futuro profissional. O uso de álcool e drogas nesta fase da vida, principalmente se abusivo, irá interromper a progressão natural do desenvolvimento cerebral do adolescente e causar um dano que poderá ser definitivo" , completa o pesquisador
Com informações da Agência Fapesp