Um dos desafios para o desenvolvimento de vacinas contra o HIV tem sido a falta de um modelo animal que reproduz fielmente a resposta imune do corpo humano para o vírus. Nesta quarta-feira (18), a revista Science Translational Medicine publicou trabalho de pesquisadores do Ragon Institute of Massachusetts General Hospital (MGH),MIT e Harvard divulgando a criação de um modelo de rato imunodeficiente, resultante de transplante de elementos do sistema imunológico humano. A nova cobaia tem o potencial de reduzir significativamente o tempo e custos necessários para testar vacinas.
"Nosso estudo mostrou não só que estes ratos humanizados conseguem reproduzir as repostas imunes do organismo humano contra o HIV, mas também que a habilidade do HIV para evitar essas reações através da mutação de proteínas virais específicas pelas células T CD8 é refletida nesses camundongos", diz Todd Allen, autor sênior do relatório. Este modelo vai facilitar o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV."
Estudos recentes têm revelado que o controle imunológico do HIV é significativamente limitado pela capacidade do vírus de escapar rapidamente das respostas imunes por mutação. O modelo animal utilizado até agora para pesquisa do HIV é o macaco rhesus, que pode ser infectado com o vírus da imunodeficiência símia relacionado (SIV), mas as diferenças nas sequências virais entre SIV e HIV, juntamente com as diferenças entre os sistemas imunes humano e do macaco, limitam a capacidade do modelo de SIV para replicar interações chaves entre o HIV e o sistema imunológico humano.
A equipe do MGH Center for Immunology and Inflammatory Diseases criou grupos de ratos humanizados BLT utilizando células e tecidos provenientes de doadores humanos com alelos diferentes, ou versões de molécula do sistema imune HLA. Alelos HLA particulares, tais como HLA-B57, são mais comuns em indivíduos naturalmente capazes de controlar o HIV, e alguns dos ratos gerados pelo grupo de Tager expressa este importante alelo de proteção.
Seis semanas após os camundongos serem infectados com HIV, os pesquisadores descobriram que o vírus foi evoluindo em termos de regiões conhecidas por serem alvo de células T CD8. A observação indicou que não só foram os sistemas de rato humanizados imunes que respondem ao HIV, mas também que o vírus foi mudando para evitar essas respostas de uma maneira semelhante ao que é visto em seres humanos. Em ratinhos que expressam o alelo HLA-B57 de proteção, tal como em pacientes humanos que controlam os níveis virais, as respostas às CD8 eram dirigidas contra uma região essencial do vírus, impedindo a mutação viral e permitindo que os animais pudessem conter o HIV de forma mais eficaz.
"Sabemos agora que esses ratos parecem replicar a especificidade da resposta celular humana para HIV e que o vírus está fugindo dessas respostas exatamente como faz no corpo humanos", diz Allen. "Estamos estudando agora como induzir respostas imunes específicas desses animais através da vacinação, o que daria uma solução rápida, através de um modelo de custo-benefício para testar a capacidade de abordagens de vacinas diferentes para controlar ou até mesmo bloquear a infecção pelo HIV. Se pudermos fazer isso, nós vamos ter uma ferramenta poderosa para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra o HIV, além de outros patógenos."