Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que, dos 1007 adolescentes entrevistados em Belo Horizonte, 80% apresentavam algum grau de insatisfação e 20,9% tinham excesso de peso. As conclusões foram apresentadas em dissertação de mestrado defendida pela fonoaudióloga Marcela Guimarães Côrtes.
A pesquisadora analisou os dados do estudo " Saúde em Beagá" , realizado entre 2008 e 2009 pelo Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH), ligado à Faculdade de Medicina da UFMG. Entre os adolescentes consultados, 55% estavam muito insatisfeitos e outros 25% apresentaram descontentamento leve.
A possível explicação para a diferença entre meninos e meninas na percepção do próprio corpo é que a preocupação masculina com a imagem ganhou importância apenas nos últimos anos. " Pode ser um processo semelhante ao que ocorreu com as meninas. A princípio, a insatisfação era maior naquelas com melhor nível socioeconômico, e com o tempo passou a ser comum em todos os níveis" , afirma Marcela Côrtes. " Outra questão importante é o aumento do excesso de peso entre adolescentes, que atingiu 20,9% nesse mesmo estudo, ocorrendo também nos níveis socioeconômicos menos favorecidos" .
Um dos motivos para essa inversão pode ser justamente o fator econômico. " As adolescentes com mais recursos têm mais opções para lidar com a insatisfação, com maiores oportunidades para prática de atividade física e esportes, além de acesso a serviços de saúde de qualidade. Quando a condição financeira é menor, as alternativas diminuem e a pessoa é forçada a conviver com essa realidade" , afirma a autora da dissertação.
Ferramenta
O diferencial do estudo foi justamente o cruzamento de dados sobre imagem corporal com fatores que descrevessem o contexto em que os adolescentes se inseriam. O nível socioeconômico foi avaliado pelo número de itens educacionais e culturais do domicílio e pelo tipo de escola onde os jovens estudavam - pública ou particular. Foram analisadas, ainda, as influências socioculturais, como família, amigos e mídia, além de fatores individuais, como hábitos, comportamentos, aspectos psicológicos e medidas de peso e altura.
A ferramenta utilizada para medir a satisfação dos adolescentes foi a escala de silhuetas, um conjunto de figuras, variando entre sete e nove no total, que representam diferentes silhuetas. Para a avaliação, pede-se que a pessoa escolha a imagem que, em sua opinião, é mais parecida com a sua. Em seguida, ela deve apontar a que desejaria possuir. A diferença entre essas duas imagens é que vai determinar o grau de satisfação dessa pessoa com sua imagem corporal.
A escala usada no estudo foi construída pela pesquisadora Idalina Kakeshita em 2008, como forma de adaptar o uso das escalas de silhueta à realidade brasileira. Além de levar em consideração o peril físico nacional, ela apresenta um número maior de figuras, com um aumento gradual das diferenças entre os desenhos. Dessa forma, é possível medir mais precisamente a insatisfação na amostra estudada.
Com informações da UFMG