A sigla HDL, popularmente conhecida como " colesterol bom" , tornou-se familiar até para quem não é da área da saúde depois que diversos estudos demonstraram a importância dessa lipoproteína na prevenção da aterosclerose e das doenças cardiovasculares.
Acreditava-se que o efeito protetor da HDL fosse devido principalmente à sua capacidade de roubar o colesterol presente na parede das artérias e carregá-lo de volta para o fígado, para ser reaproveitado ou excretado.
Mas uma pesquisa recém-concluída na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revela que as concentrações do HDL no sangue influenciam a síntese e a absorção do colesterol no organismo, além de estarem associadas à ação da insulina no metabolismo da glicose. Os dados foram publicados na revista Clinica Chimica Acta .
" Compreender melhor o papel da HDL no metabolismo do colesterol é fundamental, pois o benefício causado pelo aumento dessa lipoproteína no sangue supera o malefício causado pela elevação da LDL (o colesterol ruim)" , afirmou Eder C. R. Quintão, coordenador da pesquisa financiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Projeto Temático.
Segundo Quintão, os medicamentos existentes para combater o colesterol atuam reduzindo a concentração de LDL (sigla em inglês para lipoproteína de baixa densidade) e de VLDL (sigla em inglês para lipoproteína de muito baixa densidade), que também têm a missão de levar colesterol aos tecidos, mas ao atravessarem a parede da artéria ficam presas e contribuem para a formação da placa aterosclerótica.
" O ideal seria desenvolver drogas capazes de aumentar a HDL no sangue. A dieta e o exercício têm pouco impacto nesse processo. A ingestão habitual de bebida alcoólica, embora eleve a HDL, provoca aumento de mortalidade por causas não cardiovasculares" , disse o pesquisador.
Os pesquisadores tiveram o cuidado de manter uma proporção equilibrada de homens e mulheres nos dois grupos, bem como de selecionar voluntários com a mesma faixa etária e com índice de massa corporal (IMC) dentro da faixa considerada desejável. Foram excluídos portadores de diabetes e outras doenças, fumantes, usuários de álcool e de medicamentos que influenciam o metabolismo de lipoproteínas, entre eles a pílula anticoncepcional.
" Criamos um protocolo que difere de toda a literatura científica até então existente. Os demais estudos tinham fatores de interferência indesejáveis, uma vez que incluíam voluntários com comorbidades como obesidade ou diabete" , explicou Quintão.
Também foi feita uma análise detalhada do hábito alimentar dos participantes. " Quanto mais verduras o indivíduo ingere, maiores são os valores de fitoesterois no sangue - o equivalente ao colesterol presente nos vegetais. Como esse foi um dos marcadores analisados no estudo, os participantes tinham de ter uma alimentação parecida para não enviesar os resultados" , disse.
Os pesquisadores da FMUSP então colheram e analisaram amostras de sangue dos voluntários em busca de esteroides que servem de marcadores da síntese e da absorção intestinal de colesterol.