Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriram que a obesidade e o acúmulo de gordura na cintura podem reduzir os riscos de efeitos adversos como morte e transplante de coração, em homens e mulheres com insuficiência cardíaca avançada.
Os resultados, publicados no American Journal of Cardiology, oferecem uma visão mais aprofundada de um fenômeno observado na insuficiência cardíaca crônica conhecido como "paradoxo da obesidade". A ideia consiste no fato de que a obesidade é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de doenças cardíacas, no entanto, uma vez que a insuficiência cardíaca se manifesta, o excesso de peso pode proporcionar efeitos protetores.
"O estudo fornece uma ideia mais clara sobre como pacientes de ambos os sexos com insuficiência cardíaca podem ser afetados pelo paradoxo da obesidade. A insuficiência cardíaca pode vir a ser uma das poucas condições de saúde onde o peso extra pode vir a ser protetor", afirma a autora sênior Tamara Horwich.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados de pacientes com cardiopatias avançadas entre 1983 e 2011. A equipe avaliou 2.718 pacientes que tiveram seu IMC medido no início do tratamento da insuficiência cardíaca e 469 pacientes que tiveram a circunferência da cintura medida no início do tratamento.
Usando medidas padronizadas, os pesquisadores identificaram homens ou mulheres como tendo um IMC elevado se ele fosse maior ou igual a 25 (pacientes com sobrepeso) e 30 (pacientes obesos).
Para os homens, a circunferência da cintura foi considerada elevada em 102 cm ou mais, e para as mulheres, 88 cm ou mais.
Nos dois anos de acompanhamento, os pesquisadores notaram que nos homens a circunferência elevada da cintura e um alto IMC foram associados com sobrevida livre de eventos adversos, como morte, necessidade de transplante de coração ou necessidade de assistência ventricular.
As mulheres com IMC superior também tiveram resultados melhores do que aquelas com peso normal, e mulheres com uma circunferência de cintura alta também tenderam em direção a melhores resultados.
Ambos os homens e mulheres com um IMC e circunferência da cintura normais estavam em um risco substancialmente mais elevado para resultados adversos. Na verdade, o IMC normal foi associado a resultados significativamente piores, risco 34% maior em homens e risco 38% maior em mulheres.
"Sabíamos que a obesidade poderia fornecer proteção para pacientes com insuficiência cardíaca, mas não sabíamos se este paradoxo da obesidade se aplicava especificamente para as mulheres com insuficiência cardíaca, assim como os homens. Descobrimos que ele é verdadeiro independente do sexo", afirma Horwich.
Segundo Horwich, ninguém sabe exatamente por que o paradoxo da obesidade existe para pacientes com insuficiência cardíaca, mas há várias explicações possíveis.
Estar abaixo do peso é tradicionalmente associado a um pior prognóstico em pacientes com insuficiência cardíaca. Os pacientes podem assim se beneficiar do aumento da massa muscular, bem como das reservas metabólicas presentes na forma de tecido adiposo. Além disso, níveis aumentados de lipoproteínas do soro que estão associados com aumento da gordura corporal podem desempenhar um papel anti-inflamatório, neutralizando toxinas circulantes.
Os próximos passos da pesquisa devem incluir estudos maiores, com maior tempo de acompanhamento, bem como um olhar mais atento à fisiologia por trás do "paradoxo da obesidade".