Receber um diagnóstico positivo para o HIV hoje não é mais uma sentença de morte. Existe tratamento, o que não quer dizer que os problemas desapareceram. Quase 31 anos após ter se tornado conhecida e ter representado um marco na história da medicina, uma nova realidade desafia especialistas e pacientes no enfrentamento da doença: as comorbidades cada vez mais presentes entre os soropositivos. A preocupação atual não é mais somente com o controle da infecção pelo HIV.
As doenças outrora oportunistas e prevalentes devido à falta de acesso à terapia, agora cedem espaço a outras na população em tratamento no País. Às vezes mais, outras menos incidentes, distúrbios cardiovasculares, hepatites, cânceres, entre outras, estão se tornando doenças comuns aos soropositivos e exigindo um cuidado maior no manejo da aids.
Por que especialistas, cientistas e pacientes estão atentos a essa nova realidade?
Além de todas as peculiaridades para o enfrentamento da aids, algumas dessas comorbidades têm contribuído significativamente para as taxas de mortalidade, superando as doenças oportunistas, anteriormente responsáveis pela quase totalidade dos óbitos nessa população.
Na atualidade, a infecção pelo HIV é perfeitamente controlável. Por outro lado, a terapia agora não se restringe mais somente à luta contra a aids. A realidade atual impõe um desafio conhecido bem recentemente o combate a mais de uma doença com importantes riscos de mortalidade, o que pode comprometer sensivelmente os ganhos obtidos pelo paciente como consequência dos avanços no controle da infecção.
Isso porque, em decorrência de alterações do organismo sob o ataque do HIV e do próprio aumento na sobrevida do soropositivo (vivendo mais, torna-se perceptível a instalação de certos quadros), as comorbidades também podem ser agravadas pelos efeitos colaterais das medicações. Elevação de colesterol, desenvolvimento de diabetes, alterações hepáticas e renais, por exemplo, são algumas possibilidades resultantes do uso de determinadas drogas, além dos casos de depressão e de osteoporose que comprometem a qualidade de vida e complicam a terapia.
Nesse caso, é necessária a avaliação de cada quadro de forma individualizada e a adequação do tratamento, com a administração de medicamentos que afetem o menos possível o organismo. Essas drogas mais modernas, altamente eficazes, com boa tolerabilidade e poucos efeitos colaterais já estão disponíveis no Brasil. Mas, mesmo com menor chance de complicações, ainda assim, é preciso tomar a medicação todos os dias, religiosamente. A necessidade da adesão à terapia é inquestionável. Seguindo o tratamento à risca, a qualidade de vida do soropositivo melhora muito.
Hoje um dos principais problemas no combate à infecção pelo HIV é o diagnóstico tardio da aids. Um em cada três soropositivos não sabe que é portador do vírus e isso pode dificultar a resposta do organismo se o tratamento não é iniciado no tempo adequado. De acordo com projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), nos próximos cinco anos, as mortes por aids podem diminuir 20% se a terapia for iniciada mais cedo.
Vale lembrar que, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, foram mais de 34 mil novos casos registrados e cerca de 12 mil mortes no Brasil em 2010. Uma média de quase cem novas pessoas infectadas e 33 mortes por dia. Ao todo, 630 mil pessoas convivem com o HIV no País; cerca de 250 mil pacientes recebem medicamentos gratuitamente através do Sistema Único de Saúde.