Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, criaram um jogo coletivo online para permitir que jogadores ajudem médicos a acelerar o processo de distinção de glóbulos vermelhos infectados com malária daqueles saudáveis.
Até agora, aqueles que participaram do jogo foram capazes de diagnosticar as células doentes no sangue com 1,25% da precisão de um patologista treinado.
Os pesquisadores esperam que os usuários do jogo possam eliminar o alto custo e o diagnóstico pobre da malária em áreas pobres como a África sub-saariana, onde a malária é responsável por cerca de 20% de todas as mortes infantis.
O jogo, que pode ser acessado em celulares e computadores pessoais, pode ser jogado por qualquer pessoa no mundo, incluindo crianças.
"A ideia é, se você combinar cuidadosamente as decisões de pessoas, até mesmo de não especialistas, eles se tornam muito competitivos. Além disso, se você só olhar para a resposta de uma pessoa, pode estar certo, mas uma pessoa sozinha pode, inevitavelmente cometer alguns erros. No entanto, se combinamos as respostas de 10, 20 ou 50 pessoas, mesmo aquelas não especialistas, melhoramos muito a precisão em termos de análise", explica o pesquisador Aydogan Ozcan.
O padrão atual para diagnóstico de malária envolve um patologista treinado usando um microscópio convencional de luz para ver as imagens de células e contar o número de parasitas. O processo é muito demorado, e dado ao grande número de casos em países de poucos recursos, o volume apresenta um grande desafio. Além disso, uma parcela significativa dos casos notificados em sub-Saara da África são realmente falsos positivos, levando a tratamentos desnecessários e dispendiosos.
Segundo Ozcan, a mesma plataforma usada pode ser aplicada para combinar as decisões dos profissionais de cuidados de saúde minimamente treinados para aumentar a precisão do diagnóstico, que é especialmente promissor para telepatologia, entre outros campos de telemedicina.
Como funciona
Antes de jogar, cada participante recebe um breve tutorial online e uma explicação sobre a aparência de glóbulos vermelhos infectados com malária. Depois de completar uma fase de curta duração, os jogadores passam para o jogo real no qual são apresentados vários quadros de imagens de glóbulos vermelhos e onde eles podem usar uma "seringa" para "matar" as células infectadas, uma por uma e usar uma ferramenta "recolher tudo" para designar as células restantes no quadro como saudáveis.
Dentro de cada quadro, há certo número de células cujo estado (isto é, infectados ou não) é conhecido pelo jogo, mas não pelos jogadores. Estas imagens de células de controle permitem que a equipe estime, dinamicamente, o desempenho de jogadores conforme eles passam por cada quadro e também ajuda a equipe a atribuir uma pontuação para cada fase que o jogador passa.
"Acredito que, semelhante a outras ideias muito inovadoras, um dos grandes desafios será o ceticismo de microscopistas tradicionais e patologista, para não mencionar especialistas em malária, que, provavelmente, vão desconfiar de uma abordagem de diagnósticos baseados em jogos coletivos. No entanto, esta é uma proposta muito revolucionária e isso pode levar a alguns estudos clínicos para documentar a eficácia desta plataforma, a fim de convencer os microbiologistas tradicionais e outros profissionais", observa o pesquisador Karin Nielsen.
A equipe ressalta que a nova abordagem poderia eliminar o excesso de uso indevido de drogas anti-malária, melhorar a gestão da doença, levar a melhor utilização dos fundos existentes e reduzir os riscos devido a efeitos colaterais dos medicamentos em longo prazo em pacientes que não precisam de tratamento.
Veja mais detalhes sobre o jogo online (em inglês).