Algumas substâncias presentes no vinho podem favorecer a saúde cardiovascular e atrasar os processos de envelhecimento celular, entre outras vantagens.
"Os polifenóis são muito importantes na composição do vinho e provavelmente são os que mais propriedades saudáveis apresentam", explica Matilde Yáñez, doutora em Farmácia pela Universidade de Santiago de Compostela e pesquisadora do Instituto Teófilo Hernando da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha.
Estas substâncias estão presentes na casca da uva, por isso que seu grau de concentração no vinho dependerá de como tenha sido processado. Assim, os vinhos tintos e envelhecidos são mais ricos em polifenóis que os brancos e jovens, segundo comenta Jorge Matías-Guiu, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Clínico San Carlos de Madri. "Embora a quantidade de polifenóis no vinho também dependa de outros fatores como o tipo de uva com o qual tenha sido elaborado", diz.
"Tanto os taninos como os estilbenos (entre os quais se encontra o resveratrol) são estruturas polifenoicas às quais se atribuem propriedades antioxidantes derivadas de sua capacidade para sequestrar e neutralizar radicais livres", assinala Matilde.
"Uma dieta rica em polifenóis seria benéfica para o sistema cardiovascular, na luta contra processos inflamatórios e, definitivamente, para resistir aos processos de envelhecimento celular", diz a pesquisadora.
Segundo explica Matías-Guiu, na casca da uva há aproximadamente cerca de 3.000 polifenóis. Entre eles, o resveratrol é o mais conhecido e estudado.
"Trata-se de uma substância que a planta desenvolve como resposta a ataques externos", afirma Matilde. O resveratrol faz parte, além disso, de vários frutos como amora, groselha e amendoim, embora "sua presença na casca da uva e nos vinhos tintos o coroou como um firme candidato para explicar o paradoxo francês", acrescenta.
O paradoxo francês
Há 20 anos, no programa de televisão "60 Minutes" da rede "CBS", o francês Renaud e o norte-americano Ellison utilizaram pela primeira vez o termo "paradoxo francês" para se referir à aparente compatibilidade de uma dieta rica em gorduras e uma baixa incidência de cardiopatia isquêmica, segundo Matilde.
"Falavam de paradoxo porque, perante uma ingestão similar de colesterol e gorduras saturadas, a mortalidade atribuída a problemas cardiovasculares na França era três vezes menor que na América do Norte. A causa deste fenômeno parecia estar no consumo regular de vinho tinto", explica.
"A partir desse momento, o consumo de vinho aumentou em quase 50% e laboratórios de todo o mundo realizaram vários estudos para avaliar a hipótese dos benefícios derivados do consumo de vinho e para tentar explicar quais são os princípios ativos envolvidos, assim como os mecanismos através dos quais exercem sua ação", destaca.
O consumo moderado de vinho se associa ao benefício sobre a saúde cardiovascular. "Vários estudos demonstraram que o vinho tinto pode alterar o perfil lipídico, aumentando os níveis de colesterol HDL. Isto se deve, sobretudo, aos flavonoides que se encontram no vinho tinto e que melhoram o balanço de colesterol LDL/HDL, oferecendo certas propriedades antiaterogênicas", explica José Luis Zamorano, cardiologista do Hospital Clínico San Carlos de Madri.
O colesterol associado à proteína LDL é conhecido coloquialmente como "mau colesterol", enquanto ao associado à proteína HDL é chamado de "bom colesterol". Ambas as lipoproteínas se encarregam de transportar gordura através da corrente sanguínea, mas enquanto a primeira a leva do fígado para o resto do organismo, a segunda recolhe o colesterol dos tecidos para levá-lo ao fígado.
Assim, as propriedades antiaterogênicas do vinho se referem a sua capacidade para dificultar a formação de depósitos de gordura nas paredes das artérias.
Segundo o cardiologista, esta é sua principal propriedade. No entanto, também se atribui a elas outro tipo de benefícios para a saúde. "Os flavonoides e ácidos fenólicos do vinho têm efeito antioxidante", diz.
"O vinho possui um fator antioxidante e, portanto, antienvelhecimento", afirma, além disso, Santiago Guelbenzu, neurorradiólogo intervencionista além de dono de adega.
Segundo este especialista as propriedades do vinho são eficazes também contra certos tipos de doenças, entre elas o mal de Parkinson. Além disso, o vinho atua como antiagregante plaquetário, o que "evita pequenas isquemias no cérebro e infarto do coração", assinala.
Em sua faceta de bodegueiro, Guelbenzu tenta implementar os benefícios do vinho sobre a saúde. Com este objetivo sempre presente escolheu três variedades de uva: tempranillo, cabernet e sirah, às quais deixou amadurecer na planta. Assim, a colheita tardia, uma vinha sem irrigação, uma longa fermentação e a criação em tonel deram como resultado um vinho com uma taxa muito alta de polifenóis.
"Os rótulos das garrafas de vinho deveriam detalhar a quantidade de polifenóis para que o consumidor saiba se é mais ou menos neuroprotetor", opina o médico Matías-Guiu.
No entanto, para obter os efeitos benéficos do vinho sobre o organismo, os especialistas insistem na moderação. Todos eles se mostram de acordo em que a quantidade de vinho consumida não deva exceder duas taças diárias.
Matías-Guiu explica mediante uma curva em forma de "J" que relaciona o consumo de vinho e o risco de se sofrer doenças cardiovasculares. Deste modo, consumir pouca quantidade de vinho reduziria as possibilidades de sofrer este tipo de patologias em relação a uma pessoa absolutamente abstêmica. No entanto, se a ingestão de vinho for elevada, o risco de doenças cardíacas aumenta.
Por isso, um consumo moderado oferece as propriedades saudáveis do vinho sem os efeitos perniciosos do álcool.