Fumar durante a gravidez altera profundamente tanto o DNA quanto a expressão de genes da placenta, um fator que pode ser responsável por mudanças físicas que podem durar por toda uma vida. É o que apontam pesquisadores da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, em relatório publicado no Epigenetics Journal.
No estudo que correlacionou as mudanças na metilação do DNA (mudança química que afeta o nível de expressão dos genes) às mudanças na expressão gênica em todo o genoma da placenta, Kjersti Aagaard e seus colegas descobriram alterações na metilação e na expressão gênica de apenas 25 genes nos não-fumantes, mas em 438 genes entre os fumantes.
Caminhos celulares
A maioria das mudanças nos fumantes afetou as vias celulares associadas ao estresse oxidativo - os encargos dos elementos tóxicos chamados radicais livres que são produzidos no funcionamento normal do metabolismo.
Aagaard e seus colegas demonstraram recentemente que as placentas das mulheres que fumam apresentam evidências de danos celulares significativos devidos ao estresse oxidativo, e os novos dados descrevem os mecanismos genéticos que resultam em tais alterações.
Muitas mulheres grávidas continuam a fumar
A questão é preocupante porque, cerca de 20% das mulheres nos EUA continuam a fumar durante a gravidez. Em 1964, o U. S. Surgeon General alertou, em um relatório de referência sobre os efeitos do tabagismo sobre a saúde, que os bebês de mães fumantes eram mais propensos a nascer com baixo peso. Aagaard e os membros de seu laboratório estão trabalhando para determinar as razões por trás deste fato há vários anos. Muitas das toxinas na fumaça do cigarro (ou seja, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) são os mesmos que os encontrados no ar poluído.
Na pesquisa, Aagaard e seus colegas estudaram e compararam placentas de 18 fumantes e 18 não-fumantes.
"Assim como esperávamos a partir de nossos estudos anteriores sobre apenas um gene, esta desregulação entre a metilação do DNA e expressão gênica quando uma mãe fuma é muito profunda", disse a professora de obstetrícia e ginecologia Aagaard. Mesmo quando ela e seus colegas levaram em conta outros fatores (como o sexo do bebê), o efeito do tabagismo sobre todo o espectro de metilação dos genes na placenta foi significativo.
Crescimento impactado
Este tipo de metilação alterada ou de complemento químico em apenas seis locais nos genes metilados e no DNA pode ser associado à restrição do crescimento do embrião em desenvolvimento - um efeito conhecido do tabagismo.
As descobertas envolveram o desenvolvimento de processamento de dados e análises sofisticados, juntamente a uma metodologia estatística especial, permitindo a Aagaard e seus colegas levar em conta fatores como um diferencial conhecido do peso entre bebês do sexo feminino e masculino.