Pesquisa apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP relacionou o consumo de carboidratos por trabalhadores noturnos com o grau de sonolência, sugerindo que pessoas com sobrepeso e obesidade estão mais propensas a sentirem mais sono quanto maior for a ingestão desse nutriente. A autora do estudo, a nutricionista Patrícia Xavier Soares de Andrade Nehme, realizou a intervenção alimentar com os funcionários da segurança de uma empresa da Baixada Santista, controlando alguns fatores da alimentação dos funcionários.
Ao todo 24 participantes foram sorteados para passar pela intervenção alimentar. A partir de uma série de observações, a pesquisadora concluiu que o aumento da sonolência é mediado pelo Índice de Massa Corporal (IMC), ou seja, quanto maior o IMC, maior a influência da alimentação na sonolência. Observou-se também que os carboidratos favorecem a sonolência nos obesos.
Outro fator controlado foi a ingestão de café. Segundo Patrícia, este é um consumo alto, feito para diminuir o sono. Como era justamente isso que a pesquisa queria observar, os funcionários não puderam tomar café no período em que estavam sob análise. No entanto, a alimentação fora do trabalho era livre. A pesquisadora conta que a intervenção utilizou como base a refeição noturna habitualmente servida pela empresa, o que facilitou a adesão dos funcionários e a interpretação dos dados.
Saúde pública
Patrícia diz que a literatura é clara quanto ao fato de os trabalhadores noturnos terem maior chance de desenvolver obesidade, mas a influência do IMC na sonolência foi inesperada e não constava nos objetivos iniciais, o que aponta a importância da prevenção antes que traga consequências mais graves às pessoas.
Para a pesquisadora, cerca de 15% a 20% da força produtiva do País é constituída de trabalhadores noturnos, o que justifica a observação destes fatores para promover a saúde no ambiente de trabalho. Ela ainda acrescenta que a obesidade no trabalho não é uma questão normalmente levada em consideração, sendo o estudo uma chance para as empresas se atentarem à alimentação dos trabalhadores, não apenas em razão do bem estar, mas também pelo rendimento no trabalho. " Os trabalhadores noturnos costumam comer a mesma coisa que os diurnos e ficou claro que a alimentação influi no rendimento deles. Assim, os cardápios diferenciados são uma coisa que as empresas podem começar a pensar a partir de agora" , diz ela.