Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP para avaliar o sistema de distribuição das refeições dos cortadores de cana em uma usina do município de Piracicaba (SP) constatou que os procedimentos de preparo apresentaram um nível de adequação de 70,9%, inferior ao índice de 76% recomendado pela Anvisa. A pesquisa, desenvolvida pela nutricionista Rosana Matias Almeida Bunho, avaliou também o nível de adequação na etapa de distribuição das refeições servidas, mais precisamente no recipiente térmico destinado ao armazenamento da comida.
Sob orientação da professora Gilma Lucazechi Sturion, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), a avaliação da qualidade higiênica e sanitária das refeições foi realizada a partir do emprego de uma lista de verificação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) na unidade de alimentação e nutrição (UAN) instalada em um dos alojamentos rurais. Na etapa da distribuição das refeições e de aspectos a ela relacionados, a pesquisadora comparou dois sistemas, a marmita térmica tradicional (MT) e a hot box (HB). " Os parâmetros utilizados como base foram a manutenção de temperatura, contagem microbiológica, adequação à legislação e nível de satisfação do consumidor" , explica Rosana.
Na comparação dos sistemas de distribuição (HB versus MT), os números indicaram que o primeiro é o mais recomendado. " Na hot box verificamos menor perda de temperatura durante o período de armazenamento intermediário, qualidade microbiológica das refeições satisfatória devido ao melhor controle de temperatura e a menor exposição a contaminantes, maior atendimento aos atos normativos trabalhistas relacionados à qualidade e transporte do recipiente, utilização da área de vivência e às pausas/registros de descanso e maior satisfação por parte do trabalhador rural" , aponta a autora do trabalho.
Na avaliação da temperatura, por exemplo, observou-se no momento do envase 70,4ºC para o sistema MT e 68,2ºC para o sistema HB. No entanto, quando os trabalhadores foram consumir o produto, as marmitas registraram 34,6ºC enquanto que a hot Box ainda permanecia com 50,7 ºC, ou seja, a perda de calor foi bem menor.
A partir da pesquisa, a empresa na qual Rosana desenvolveu o estudo implantou o sistema de hot Box em cinco das 23 unidades produtoras e a perspectiva é que na próxima safra outras unidades já utilizem o sistema HB. " Dada a deficiência de pesquisas do segmento na área sucroalcoleira e a vulnerabilidade da clientela atendida, o estudo complementa lacunas e aponta para investimentos por parte do setor com vistas na melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho" , conclui.