Ratas expostas ao estresse durante o início do desenvolvimento transmitem os efeitos desta condição para a sua prole em forma de distúrbios de comportamento e características de resiliência, segundo um novo estudo realizado na Universidade de Haifa, em Israel.
Os resultados mostraram que fornecer uma terapia de enriquecimento ambiental para as ratas grávidas teve um papel corretivo em alguns dos efeitos negativos. "As semelhanças entre ratos e seres humanos levantam a questão de saber se efeitos iguais podem ocorrer em seres humanos, por exemplo, se a exposição à guerra ou a desastres naturais pode ter efeitos hereditários", explicou o professor de psicologia e autor do estudo Micah Leshem.
Os pesquisadores examinaram os ratos em função de sua semelhança com os seres humanos e sua rápida taxa de desenvolvimento e reprodução, o que facilita o estudo entre gerações.
A equipe de pesquisa avaliou 40 ratas desmamadas aos 27 dias de idade. Um grupo controle foi criado normalmente em gaiolas individuais, o segundo foi exposto a diferentes fatores estressantes, o terceiro foi enriquecido, e o quarto grupo foi tanto estressado quanto enriquecido. Os ratos amadurecidos foram acasalados depois de 60 dias. Os filhotes da ninhada foram divididos em dois grupos, um criado normalmente e o outro criado em um ambiente enriquecido, para que o efeito da terapia na próxima geração também pudesse ser avaliado. Os grupos de descendentes foram, então, avaliados em relação à interação social, níveis de ansiedade, capacidade de aprender e de lidar com o medo.
As principais conclusões do estudo mostraram que o tratamento precoce das mães impactou o comportamento da prole. O estresse das mães reduziu a interação social dos filhotes, mas melhorou a capacidade de aprender a evitar o estresse. Os descendentes do sexo masculino também foram melhores em lidar com o medo. Algumas destas mudanças foram atenuadas por meio do enriquecimento das mães, de modo que estressar as mães e, em seguida, colocá-las em um ambiente "terapêutico" (enriquecido), impediu alguns, mas não todos, os efeitos na geração seguinte. O tratamento dos filhotes também compensou alguns dos efeitos hereditários.
Segundo os pesquisadores, o estudo sugere que a evolução equipou a geração dos pais para provar o ambiente e, depois, possivelmente via mudanças epigenéticas hereditárias, preparar a próxima geração para lidar melhor com as situações. "É importante investigar se experiências estressantes em uma idade jovem afetam a próxima geração, e se experiências terapêuticas podem minimizar os efeitos entre gerações nos humanos. Como o nosso estudo mostra que a herança dos efeitos da adversidade pode ser modificada pela intervenção oportuna, isso pode ter implicações educacionais e terapêuticas importantes", explicou Leshem.