Nenhuma quantidade de álcool é segura para que uma pessoa assuma a direção. É o que sugere pesquisa desenvolvida na University of California de San Diego, nos Estados Unidos. Dados do estudo mostram que níveis de álcool no sangue bem abaixo do limite legal americano, que é de 0,08%, estão associados com lesões incapacitantes e morte.
Os pesquisadores reuniram informações sobre todas as pessoas nos EUA que estiveram envolvidas em acidentes de carro fatais, 1.495.667 pessoas entre os anos de 1994 a 2008. As informações cobrem todos os municípios dos EUA, todos os dias da semana, em todos os momentos do dia e ainda trazem relatórios sobre o conteúdo de álcool no sangue, mesmo em níveis de apenas 0,01.
Todos os acidentes incluídos no estudo foram graves, mas os autores identificaram diferentes níveis de gravidade, analisando a relação de lesões menores até graves. "Os acidentes foram 36,6% mais graves quando o álcool foi praticamente indetectável no sangue do motorista. Mesmo com uma taxa de apenas 0,01, foi notificada uma taxa de 4,33 ferimentos graves para cada lesão não grave contra 3,17 para motoristas sóbrios", disse o líder do estudo, David Phillips.
Há pelo menos três mecanismos que ajudam a explicar este achado, segundo Phillips. "Comparado com motoristas sóbrios, motoristas que ingeriram álcool são mais propensos a velocidade e têm maior probabilidade de não usarem cinto de segurança, o que está associado com uma maior gravidade em acidentes".
Os pesquisadores também acreditam que quanto maior for o nível de álcool no sangue, maior a velocidade média do motorista e maior a gravidade do acidente. As descobertas persistem mesmo quando variáveis como desatenção e cansaço são excluídas da análise. Em geral, a gravidade de acidentes é maior nos finais de semana e nos meses de verão (de junho a agosto nos Estados Unidos). Mas a relação entre bebida e acidentes mais graves também persistiu para outros dias.
"Até agora, os limites de alcoolemia foram determinados não apenas por considerações racionais e por descobertas empíricas, mas também por fatores políticos e culturais", disse Phillips, citando como prova o fato de que o padrão nacional dos EUA de 0,08 é relativamente recente e que os limites alteram muito pelo país. De um país para outro as taxas também variam bastante. Na Alemanha é de 0,05%; no Japão, 0,03%; Suécia, 0,02%/; e Brasil, 0,06%.
"Esperamos que nosso estudo possam influenciar os legisladores não só dos EUA, mas também estrangeiros, no fornecimento de evidências empíricas para diminuir os níveis legais de álcool no sangue ainda mais. Fazer isso é muito provável que reduza lesões incapacitantes e salve vidas", acrescentou Phillips.