Genes ligados ao sistema imunológico podem afetar os traços de personalidade em pessoas saudáveis, bem como aumentar o risco de desenvolver doenças mentais e comportamento suicida, revela uma tese da Academia Sahlgrenska, na Suécia.
A inflamação é parte do sistema imunológico e é responsável por defender os seres humanos contra a infecção, bem como facilitar a cicatrização de lesões, e, por isso, é vital para nossa sobrevivência. Pesquisas têm demonstrado que processos inflamatórios também têm outras funções a desempenhar, como a produção de substâncias inflamatórias por mecanismos de influência do corpo no cérebro, envolvendo a aprendizagem e a memória.
As substâncias inflamatórias produzidas em quantidades moderadas no cérebro podem ser benéficas durante a formação de novas células cerebrais, por exemplo. No entanto, um aumento dos níveis dessas substâncias, como é o caso durante a doença, pode resultar em danos ao cérebro.
"Estudos anteriores demonstraram que os indivíduos que sofrem de várias doenças mentais têm uma inflamação periférica aumentada, mas a razão por trás deste aumento é desconhecida", disse Petra Suchankova Karlsson, autor do estudo. "Tem sido sugerido que o estresse que acompanha a doença mental ativa o sistema imunológico do corpo, mas também é possível que a inflamação no corpo afeta o cérebro, que por sua vez, resulta em doença mental".
Estudos anteriores concentraram-se em como os fatores ambientais e psicológicos afetam o impacto do sistema imune sobre o cérebro. Suchankova apresenta, pela primeira vez, resultados que sugerem que diferentes genes ligados ao sistema imunológico estão associados a traços de personalidade de pessoas saudáveis. Ele também demonstra que alguns desses genes estão associados com um risco aumentado de desenvolver esquizofrenia ou comportamento suicida.
"Uma das coisas que estudamos foi uma variante do gene que aumenta a impulsividade em pessoas que o carregam", diz Suchankova. "Nós já sabíamos que o risco de tentativa de suicídio é maior nas pessoas impulsivas e, portanto, analisamos esta variante do gene em um grupo de pacientes que haviam tentado o suicídio. Descobrimos que esses pacientes possuíam mais frequentemente a variante particular do gene, quando comparados à população em geral, o que significa que esta variante não está associada apenas ao aumento da impulsividade em indivíduos saudáveis, mas também com o risco aumentado de comportamento suicida".
A mudança nos níveis de substâncias inflamatórias no sangue de pacientes que sofrem de uma doença mental pode ter sido causada por genes relacionados com a inflamação que afeta o risco de doença mental, ao invés da própria doença.
"Pode bem ser que algumas variantes dos genes desempenham um papel no desenvolvimento da doença mental por meio do controle como o cérebro se forma, talvez durante a fase embrionária, ou por afetar a transferência de substâncias sinalizadoras", disse Suchankova.
Os resultados apóiam o papel proposto para o sistema imunológico na doença mental e poderiam ser usados como base para novos estudos que, espera-se, irão conduzir ao desenvolvimento de novos métodos de tratamento.